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Gilberto Dimenstein entendia a educação como oportunidade única de provocar as pessoas a se encantarem com o conhecimento, o mundo e a capacidade do ser humano de usar o conhecimento para transformar. Considerado mau aluno durante toda a sua trajetória escolar por conta de enorme inquietude e dispersão, acreditava que as instituições de ensino precisavam se reinventar para acolher, engajar e desenvolver o potencial de estudantes com diferentes perfis e interesses.
Bairro-Escola
Dimenstein defendia com afinco a ideia de “derrubar os muros” da escola para que crianças e jovens pudessem aprender de forma lúdica e a partir de vivências concretas, em qualquer lugar, a qualquer hora e com diferentes pessoas. Foi esta inspiração que o levou a criar o conceito de bairro-escola e a organização não-governamental Cidade Escola Aprendiz.
Em suas próprias palavras, o bairro-escola é uma experiência de educação integral em que “praças, parques, ateliês, becos, estúdios, oficinas, empresas, museus, teatros, cinemas, parques de diversão, centros esportivos, bibliotecas, livrarias são explorados como extensões das salas de aulas, formando trilhas educativas a serem percorridas”.
Ao longo das primeiras décadas dos anos 2000, o conceito de bairro-escola foi amplamente difundido dentro e fora do país, com apoio de organizações como Unesco e Unicef. Também inspirou experiências inovadoras na Vila Madalena e na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, nas cidades de Nova Iguaçu (RJ) e de Belo Horizonte (MG), no bairro do Rio Vermelho, em Salvador (BA), além do Mais Educação, programa de ampliação da jornada escolar com foco no desenvolvimento integral dos estudantes, disseminado pelo Ministério da Educação para milhares de escolas em todo o Brasil.
Na Vila Madalena, juntamente com a Cidade Escola Aprendiz, Dimenstein criou ainda uma série de experimentos de ocupação educativa de espaços públicos, como o Projeto 100 Muros, a Escola da Rua e o Trilhas Urbanas. Em 2007, o trabalho da Cidade Escola Aprendiz foi reconhecido pelo governo dos Estados Unidos e homenageado em evento na Casa Branca. Já em 2009, o bairro-escola foi apontado como exemplo de inovação comunitária em estudo da Escola de Administração da Universidade de Harvard, também nos Estados Unidos.
Para entender mais sobre o envolvimento de Dimenstein com a Cidade Escola Aprendiz, assista à entrevista de Natacha Costa, diretora-executiva da instituição.
Educomunicação
As primeiras experiências de Dimenstein com educação se deram por meio de projetos em que utilizava mídias e tecnologia para promover a educação de jovens para a cidadania. As iniciativas aconteciam em escolas ou organizações sociais e envolviam os participantes na elaboração de sites, blogs, revistas, livros, vídeos, entre outros produtos de comunicação.
A produção “jornalística” dos estudantes estava sempre associada a temas contemporâneos e de relevância socioambiental, mas também se conectava com a aprendizagem das disciplinas escolares, como português, história, geografia, ciências, artes e matemática. O processo de criação das mídias ainda contribuía para fortalecer o protagonismo e o desenvolvimento pessoal e social dos participantes, incluindo o aprofundamento de habilidades como pensamento crítico, comunicação, criatividade, colaboração e empreendedorismo.
Dentre as experiências de educação concebidas ou apoiadas pelo jornalista estão Design Social e Old Net, realizadas pela Cidade Escola Aprendiz, Cidadão na Linha, Idade Mídia e Open City, implementadas em parceria com o Colégio Bandeirantes, em São Paulo. Ele também contribuiu para a construção de diferentes plataformas de comunicação voltadas a disseminar informações relevantes e de qualidade para promover a melhoria da educação no país, como os portais Aprendiz e Porvir.
No exercício da sua função de jornalista, Dimenstein produziu inúmeros artigos e reportagens que denunciavam os problemas enfrentados pelas escolas e alunos brasileiros, além de disseminar experiências educacionais de referência, sempre com o intuito de apontar soluções para melhorar a educação pública. Um desses exemplos mais marcantes foi a ampla repercussão que deu ao Programa Bolsa-Escola, lançado pelo então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque. A iniciativa se desdobrou no Programa Bolsa-Família e se tornou referência internacional de política social.
Livros Educativos
Dimenstein também se fez presente em salas de aula de escolas e universidades de todo o Brasil a partir da escrita de livros paradidáticos. As publicações tinham a intenção de ampliar a compreensão de crianças e jovens sobre os problemas sociais do país, expandir sua consciência sobre temas como solidariedade, meio ambiente, paz e cidadania e estimulá-los a atuar como agentes de transformação das suas comunidades.
Algumas destas obras marcaram gerações, como O cidadão de papel, ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura em 1993, que virou peça de teatro em Salvador, com texto e direção de Filinto Coelho e músicas de Renan Ribeiro; e em São Paulo, com adaptação de Sérgio Roveri, encenada pela Companhia Os Satyros, e de Celso Cruz, com montagem da Cia. Usina Paulistana de Artes.
Sobre O cidadão de papel, a companheira de Dimenstein, Anna Penido, diz em entrevista: “O livro se propõe a ensinar os jovens brasileiros o que é cidadania, democracia, justiça social. Estávamos acabando de sair do regime militar, entrando no processo de redemocratização. Gilberto achava muito importante educar as novas gerações para saber viver em democracia, para entender as mazelas sociais, os desafios políticos e econômicos do Brasil, e poder se engajar como agentes de transformação dessa realidade.” Seguem este mesmo propósito os livros 10 lições de filosofia e 10 lições de sociologia para um Brasil cidadão, escritos com Marta M. Assumpção Rodrigues e Álvaro Cesar Giansanti.
A série Mano, que conta as aventuras de um adolescente, é outro destaque. Escrita em parceria com Heloisa Prieto, o livro tem provocado discussões sobre temas atuais nas escolas e inspirou o filme As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzky.
Dimenstein também realizou projetos de reescrita do livro O cidadão de papel com estudantes, que geraram as obras Os fantasmas de Curitiba – uma expedição pela cidadania, com o Colégio Positivo, e o Vozes de Santos, com o Colégio Santa Cecília, nas respectivas cidades.