ABC da cidadania

BRASÍLIA — O pronunciamento de ontem sobre educação foi o primeiro lance original de FHC. Está longe do normal um presidente brasileiro anunciar o ensino básico como prioridade. A tarefa é maior do que se imagina: é maior do que reformar escolas. É reformar mentalidades.
A mentalidade hoje é do tipo “Casa Grande & Senzala”. Ou seja, escravagista. As classes alta e média tiraram seus filhos protegeram-se na escola particular. O ensino público virou depósito do filho da empregada, do operário, do camponês. Um subensino para uma presumida “subclasse”.
O ponto mais importante do pronunciamento é a constatação de que a educação não é um desafio apenas do governo —e, aí, está mudança da mentalidade. Se deixarmos apenas nas mãos do poder público, já será uma boa notícia se não piorar ainda mais.
A educação é muito mais ampla do que a escola. O indivíduo obtém informações em vários ambientes, além da sala de aula. Começa em casa: existem toneladas de pesquisas mostrando como os pais podem ser fator de estímulo ou desestímulo na curiosidade dos filhos. Por exemplo: pais que lêem tendem a estimular o interesse pela leitura nos filhos.
A imensa maioria das crianças passa mais tempo em frente de uma TV do que olhando para um quadro negro e, na média, o que assistem é lixo educacional. Para piorar, são espectadores passivos de um desfile cenas de violência e estímulo desenfreado ao consumismo. Pouco, quase nada, sobre educação contra drogas, Aids, gravidez precoce, consciência ecológica.
A experiência internacional, verificada em regiões de países pobres da Ásia, América Latina e África, dá um sinal claro: a escola progride quando a comunidade se interessa e os pais participam.
Ou seja, é quando impera a mentalidade de que a educação é o caminho para a liberdade humana.
Se Fernando Henrique Cardoso conseguir alavancar essa mudança de mentalidade (o que, por enquanto, é só uma hipótese e um discurso bem-intencionado), terá ajudado a promover uma revolução.