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Gilberto Dimenstein se destacou como jornalista por conta de uma intuição aguçada – que lhe permitia antever as pautas que se tornariam relevantes – e de um olhar criativo – que lhe possibilitava enxergar a realidade a partir de perspectivas inusitadas. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, ascendeu rapidamente na profissão, ganhou inúmeros prêmios e tornou-se referência no setor. Mas a sua principal contribuição na área foi usar o seu talento como comunicador para promover causas e projetos sociais, mudando a percepção dos brasileiros acerca dos seus problemas e fomentando políticas públicas importantes.
Do jornalismo político ao jornalismo cívico
Dimenstein começou a carreira como repórter político, passando pelas redações de veículos de destaque – como os jornais O Globo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense e Última Hora, e as revistas Veja e Visão – até assumir a direção da sucursal da Folha de S. Paulo, em Brasília. Neste último veículo, onde permaneceu por 28 anos, utilizou sua habilidade como jornalista investigativo para denunciar grandes esquemas de corrupção e contribuir com o processo de redemocratização do país no pós-ditadura militar. Datam desta época algumas das reportagens que lhe renderam mais notoriedade e prêmios, como o Esso e o Líbero Badaró. Duas se tornaram livros: Conexão Cabo Frio: escândalo no Itamaraty (1989) e A história real: trama de uma sucessão (1994), escrito em parceria com o jornalista Josias de Souza, sobre o tempo em que trabalharam juntos na capital federal.
Entre o final da década de 80 e o início dos anos 90, Dimenstein foi redirecionando o seu foco e começou a investigar questões mais relacionadas a direitos humanos, especialmente na área da infância e adolescência. São desta época as reportagens de que mais se orgulhava e que também se transformaram em livros: A guerra dos meninos (1990), sobre o assassinato de garotos que viviam nas ruas de grandes centros urbanos, e Meninas da noite (1992), sobre a exploração sexual de adolescentes no norte e nordeste do país.
Em entrevista para a 43a Mostra Internacional de Cinema (2009), Dimenstein revela que o redirecionamento do seu olhar foi influenciado pelos filmes Iracema: uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky, e Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco. A virada de chave na carreira de Dimenstein também foi inspirada por sua convivência com o educador Cesare La Rocca, fundador do Projeto Axé, que promove o desenvolvimento do potencial de jovens em situação de vulnerabilidade na cidade de Salvador (BA).
É neste contexto que ele cria, em parceria com a jornalista Âmbar de Barros, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI (atualmente ANDI – Comunicação e Direitos), organização não-governamental cujo propósito inicial era subsidiar com informações e estimular a imprensa a cobrir pautas relevantes sobre as crianças e adolescentes brasileiros.
Comunicação para o Empoderamento
A partir deste momento, Dimenstein dedica-se incansavelmente a descobrir e divulgar experiências sociais inovadoras e efetivas, capazes de resolver problemas nas mais diversas áreas da vida humana, como saúde, segurança pública, meio ambiente, desenvolvimento comunitário, economia criativa e, especialmente, educação. É com este intuito que inicia a sua colaboração com a Rádio CBN e passa a compartilhar o seu otimismo com os ouvintes todas as manhãs, disseminando boas notícias nos programas Capital Humano e Mais São Paulo. Também é com este objetivo que se junta ao ex-jogador de futebol Raí Oliveira para apresentar o programa Boa Notícia, na TV Futura.
Este foi ainda o mote da coluna América, que publicou na Folha de S. Paulo durante o período em que morou em Nova York (1995-1998), onde teve acesso a inúmeras ideias e iniciativas interessantes. A temporada nos Estados Unidos o inspirou a escrever o livro Aprendiz do futuro, cujo lançamento foi tema de entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura (1997), quando já falava sobre o uso de tecnologias na educação.
A publicação inspirou a criação do Portal Aprendiz, primeira plataforma digital de notícias criada por Dimenstein, que cobria temas relacionados a educação e foi ponto de partida para a concepção de suas contribuições mais sólidas na área social: a organização educativa Cidade Escola Aprendiz e o portal Catraca Livre.
Com a Cidade Escola Aprendiz, o jornalista aprimorou a sua capacidade de produzir comunicação para mobilizar comunidades e promover causas sociais relevantes. Habilidade posteriormente utilizada para apoiar inúmeras instituições da sociedade civil, como o Instituto Baccarelli e a Orquestra Sinfônica Heliópolis, o Horas da Vida, entre muitas outras. Era especialmente reconhecido no setor por seu talento para criar nomes e relatos poderosos, que resultavam no fortalecimento de instituições e projetos socioambientais.
Catraca Livre
Dimenstein gostava de dizer que a Catraca Livre nasceu como uma oportunidade de fazer algo junto com seus filhos Marcos e Gabriel. A ideia inicial era criar um site para divulgar o que acontecia na Vila Madalena, bairro paulistano de intensa vida cultural onde havia fixado residência. Mas ao constatar que os estudantes de uma escola pública localizada na Av. Paulista não frequentavam as atividades oferecidas na região, ainda que gratuitamente, percebe que a ideia podia se expandir para toda a cidade.
Em palestra realizada no evento Estação do Conhecimento CBN Young Professionals (2011), o jornalista diz: “Eu descobri que os estudantes não iam porque não sabiam que podiam ir, não tinham informação. Alguns achavam que tinham que pagar, porque tudo o que é bonito tem que pagar. (…) Aí eu fiquei com aquilo encasquetado: Paulista, uma avenida com tantas possibilidades e uma única escola pública! Decidimos criar um projeto em função disso e montamos um banco de dados na internet com tudo o que tinha de graça na cidade de São Paulo”.
De lá para cá, pode-se dizer que a Catraca Livre revolucionou o jeito com que os internautas passaram a se relacionar com a agenda cultural de suas cidades e se tornou um fenômeno de audiência, disputando em engajamento com algumas das principais plataformas de notícias do país.
Para saber mais, assista aos vídeos da educadora Lia Roitburt, que ajudou a estruturar a Catraca Livre, e do CEO Marcos Dimenstein.