Brasília, cidade aberta

BRASÍLIA – Só deixo Brasília temporariamente porque estou envolvido num projeto de investigação jornalística e considero importante ter experiência profissional em Nova York.
Em situação normal, não a trocaria por nenhuma cidade brasileira e, pior, nem estrangeira. Adoro viver aqui, e aproveito hoje para tentar reparar uma injustiça: Brasília é vítima constante da desinformação, mitos, mentiras, ressentimentos.
Incrível o número de leviandades que se falam sobre a cidade. Claro que Brasília está muito longe da santidade. Só que, no quesito ética, não é pior nem melhor do que ninguém.
Revoltante, porém, é acusar a cidade de berço da corrupção, malandragem, caos burocrático. Dizem que é assim porque não existe sociedade civil -e porque não tem sociedade não há fiscalização.
Os malandros e corruptos já chegaram aqui com curso de pós-doutorado. Não precisaram aprender nada, aliás dão aula em seus Estados. E, nos finais de semana, muitos voltam para suas regiões. Para eles Brasília mão é uma cidade-dormitório, mas cidade-latrina.
Hordas de barões e lobistas chegam aqui diariamente e, em sua maioria, não praticam benemerência. Como ensina Delfim Netto, ninguém vem a Brasília a passeio.
O Rio tem sociedade civil -e gente notável como, por exemplo, Betinho. Nenhum Estado sofreu, porém, tamanho processo de deterioração. São Paulo também tem uma forte sociedade civil, mas, a julgar pelas reclamações de um homem íntegro como Mário Covas, os cofres foram cenário para navegação de piratas.
A injustiça maior é tentar usar Brasília como bode expiatório da bandalheira nacional -até porque é a única cidade que, a cada semana, fica mais honesta. É quando os “professores” voltam para suas cidades.
PS – Como bairrismo pouco é bobagem, registro mais uma vítima de injustiça. A imprensa baseada em Brasília é sempre acusada de chapa-branca e dócil com o poder. Produziram-se aqui devastadoras reportagens -um fértil modelo de independência para quem deve lidar com qualquer tipo de poder, inclusive o econômico.