“A escola está cada vez mais chata, e o aluno cada vez mais dispersivo ou indisciplinado”, disse ontem o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, ao analisar os resultados do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica do MEC) que mostram queda de aproveitamento nas escolas particulares, conforme revelou a Folha, na edição de ontem.
O “efeito chatice” é provocado porque, de um lado, a escola não se reciclou, o professor interage pouco com os alunos, os conteúdos devem ser decorados, as matérias estão distantes da realidade.
E, de outro, segundo o ministro da Educação, porque a oferta de conhecimento é cada vez maior e melhor fora da sala de aula, graças aos recursos tecnológicos – em especial, a Internet.
Há, portanto, um descompasso entre o contato que o aluno tem com o conhecimento fora da escola, embalado nos recursos multimídia e interativo, e a sala de aula, onde o professor se sente o todo-poderoso, repetindo conceitos, a serem cobrados nas provas.
“Previsível o aumento do desinteresse”, afirma o ministro, numa visão compartilhada por um crescente número de educadores, alertando para a defasagem da escola na era da informação.
Daí a recomendação para que a escola adapte seus currículos para o cotidiano do aluno, transforme o professor num facilitador de informações e conhecimento e use a tecnologia como instrumento permanente de pesquisa.
Sobre os resultados do Saeb nas escolas públicas, que também indicaram redução na média, o ministro segue a linha de pensamento da secretária da Educação de São Paulo, Rose Neubauer.
Segundo ele, o aumento de matrículas e a queda nos níveis de evasão provocam impactos negativos no nível de aprendizado.
“São mais pessoas nas escolas, muitas delas com famílias com baixo nível
educacional, ou sem nenhum nível educacional. Natural que, a exemplo do que ocorreu em outros países, tenhamos mais alunos com baixa preparação.”
Para ele, o resultado do Saeb poderia ser considerado até mesmo “uma vitória”. “Considerando o brutal aumento de matrículas, a redução da média não é significativa”, afirmou.
O ministro reconhece que, independentemente de qualquer consideração sobre a média, o nível ainda está “muito longe do ideal”. “Ainda é muito pouco.” Segundo ele, as escolas públicas também devem urgentemente reciclar professores e currículos.