O espírito mix de Beto Lago

Beto Lago, 33, nasceu na zona norte de São Paulo, em uma família de classe média baixa. Estudou, com dificuldades, até a oitava série do ensino fundamental. Fez os mais diversos tipos de bico: de contínuo a garçom, passando por vendedor de loja e modelo. Deslocado, encantou-se pelas tribos urbanas marginais. Dessa combinação de diversidade com marginalidade surgiu o aprendizado para criar, há sete anos, o Mundo Mix, ícone da moda alternativa no Brasil.

Atualmente com conexões em 14 cidades e, lentamente, entrando na Europa, o Mundo Mix transformou-se num laboratório de experimentação de novas modas e atitudes. Ali, por exemplo, surgiu o primeiro restaurante de cozinha “thai” em São Paulo e a percepção de que valia a pena investir nos adereços para os clubbers.

“Aprender, para mim, significa viver. Viver é experimentar”, sintetiza Lago, para quem o Mundo Mix nasceu como um espaço que cultua a diversidade. “Valorizar a diferença é minha mola propulsora.”

Sem educação formal, Lago foi aprendendo na vida o que tinha de aprender para prosperar profissionalmente. Gerente de uma loja num shopping center, chamou para ajudá-lo exóticos seres do mundo clubber, com suas roupas enegrecidas, piercings e cabelos arrepiados.

Deu errado e, ao mesmo tempo, deu certo. Atraiu uma clientela descolada, mas os donos da loja não conviveram bem com os vendedores um tanto estranhos à paisagem de um shopping. Perdeu o emprego, mas tinha ganhado uma idéia: dali nasceria o “Mundo Mix”, que serveria de incubadora para a moda anti-shopping, e, ao mesmo tempo, seria um ponto de encontro.

“Sinto-me como uma espécie de Sebrae alternativo”, brinca. O “Sebrae” funcionou. Muitos dos estilistas que fazem sucesso nacional e internacional —alguns deles responsáveis por São Paulo se converter na capital da moda brasileira— começaram naquele laboratório de tendências.

Um próximo projeto, ainda em discussão, é criar uma versão educacional do Mundo Mix. “Quero criar um espaço de oficinas, com candidatos a estilistas, em que se compartilhem nossas criações”, diz Lago.