Até ontem à noite, o presidente Fernando Henrique Cardoso estudava uma fórmula em torno do salário mínimo e dos aposentados para tentar reverter ou, no mínimo, conter seu desgaste. O clima de emergência no Palácio do Planalto é determinado, em parte, pelo impacto da pesquisa Datafolha, indicando a queda abrupta do prestígio presidencial.
Em pronunciamento previsto para hoje, Fernando Henrique quer mostrar-se sensibilizado com o atual valor do salário mínimo. Pretende relembrar compromissos de campanha de elevação do mínimo.
O obstáculo, segundo ele: as contas da Previdência são atreladas a esse valor. Ou seja, abririam mais um rombo. Agora, no valor de todos os cortes das emendas dos parlamentares já anunciados pelo governo.
A estratégia de Fernando Henrique é tentar dividir o desgaste com o Congresso. Os ajustes dos aposentados teriam um novo mecanismo: não receberiam integralmente o aumento. O que, óbvio, depende de autorização dos deputados e senadores. E, aí, abre-se outro flanco de conflito: os 15 milhões de aposentados e pensionistas.
É um tema dificílimo para ser resolvido. É vexaminosa a situação dos aposentados. São vítimas de um massacre diário. Não menos vexaminoso é o valor do salário mínimo. Só um imbecil estaria contra melhorar a vida dos aposentados ou dos trabalhadores que ganham o salário mínimo.
Um presidente da República seria, porém, irresponsável caso dinamitasse ainda mais as contas públicas, estimulando a volta da inflação, o maior inimigo dos trabalhadores e aposentados.
Para piorar, o assunto atrai, como de costume, exploração demagógica —daí a decisão do Congresso em jogar o mínimo para R$ 100,00, lavando as mãos.
PS — Há desgastes necessários e desnecessários. Vetar o “mínino é necessário”. Existe, agora, um belíssimo exemplo de desgaste desnecessário: até agora, apesar dos insistentes pedidos deste jornal, não foram liberadas pelo Palácio do Planalto as declarações de bens dos ministros.