Entre dois Fernandos


BRASÍLIA – Fernando Henrique Cardoso assume hoje a Presidência com uma ótima notícia: 70% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha, acreditam que ele vai fazer um governo ótimo ou bom. Conta com esmagadora confiança do país, o que lhe dá força para executar as reformas. A pesquisa traz, porém, uma advertência: o Fernando que iniciou seu mandato presidencial, em 1990, tinha os mesmos níveis de otimismo. Todos sabem como acabou.
Opinião pública é volúvel, sempre atenta a resultados concretos. Isso, na prática, significa melhores níveis de emprego, salário, educação, saúde, lazer. Fernando Henrique recebe uma população eufórica.
Não é para menos: a classe média vive uma febre de consumo, em meio, pasme-se, à inflação em queda e sem controle de preços. Nunca se viu nada parecido na história do Brasil. Daí as altíssimas taxas de popularidade de Itamar Franco e de Ciro Gomes.
Fernando Henrique está na cômoda situação de pegar o país com inflação baixa e alta taxa de confiança. Mas, ao mesmo tempo, essa comodidade carrega um árduo desafio. Ele se desgasta se a inflação subir ou o consumo cair. A meta da estabilização ainda é um longo percurso, exige sacrifícios e não é rápida.
O gosto da inflação baixa já é conhecido e, certo ou errado, atribuído em grande parte a Itamar Franco. O diferencial de Fernando Henrique será não apenas manter os indicadores econômicos que já se conseguiu, mas melhorá-los –ou seja, baixar ainda mais a inflação. Não é só.
Ao final de seu mandato, os indicadores sociais devem ser menos vexaminosos, o que depende, óbvio, de entrosamento com Estados e municípios. Estou convencido, porém, de que se ele tiver mesmo a “paixão pelo possível”, terá sucesso.
Cito, aqui, apenas um detalhe entre milhares de exemplos sobre o efeito da paixão pelo possível. Todos sabem que a Índia é um país miserável. Um dos seus Estados chama-se Keyralla, onde a renda per capita é de US$ 200 por ano. Lá se investiu em educação: a taxa de mortalidade e matrícula escolar são várias vezes melhores do que no Brasil, onde a renda per capita é 14 vezes maior.