Ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias, Prêmio Nobel da Paz, condenou o Brasil por vender armas –o que irritou diplomatas e militares. “Num mundo em que acabou a Guerra Fria, me dói muito que haja países que são importantes vendedores de armas, como Brasil”, comentou, ao chegar a Brasília para um seminário. A idéia é ótima, mas o alvo fraco.
A crítica se encaixa. Afinal, ainda somos exportadores de armas. O mercado, porém, é dominado pelos Estados Unidos. E, aqui, está uma das mais notáveis hipocrisias internacionais.
O governo dos Estados Unidos se enfurece (e com razão) porque o Terceiro Mundo faz passar drogas por suas fronteiras, afetando a saúde de sua população. Gasta bilhões para repressão e prevenção, ameaça países produtores como a Colômbia. Mas ao mesmo tempo (assim como o governo brasileiro) envolve sua diplomacia para vender armas.
Pode soar estranho, mas em essência ambos se nivelam: o vendedor de armas e o traficante. O governo dos Estados Unidos se preocupa com emprego gerada pela indústria de armas –o que, até certo ponto, é compreensível, embora não se justifique.
Essa lógica serve, porém, para compreender as razões dos plantadores de folha de coca da Colômbia, Bolívia e Peru. Para os camponeses também é uma questão de emprego.
A linha correta está, de fato, com Oscar Arias, cujo país não tem Forças Armadas, o que deveria ser como o exemplo dos exemplo para o mundo. Quem está preocupado com a paz –isso significa, na prática, a saúde da humanidade– não deve tolerar nada que concorra para a opressão: nem traficantes de drogas nem vendedores de armas.
Para piorar, o dinheiro destinado às armas poderia ser drenado à educação ou saúde. É, portanto, um duplo prejuízo.
PS – Sobre a aposentadoria precoce dos professores universitários comentada aqui domingo, o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, disse ontem, em contato com esta coluna, que se depender dele, acaba na reforma constitucional.