Serviço médico ‘proíbe’ volta ao Brasil
A Aids está aprisionando brasileiros em Nova York. Exilados pela doença, não podem voltar ao Brasil. Nem para férias ou um simples fim-de-semana.
Longe da família e dos amigos, impedidos pelo inverno rigoroso de sair às ruas, a maioria tenta compensar a solidão com drogas, religião e -em casos extremos- até com o suicídio.
Eles formam o tecido mais vulnerável entre os cerca de 1 milhão de imigrantes ilegais que entram anualmente nos EUA e os quase 1,5 milhão de brasileiros que vivem clandestinamente ou não no país.
E vêm engrossar os cerca de 235 mil nova-iorquinos que são soropositivos. Estimativas indicam que a cada dia 14 pessoas contraem o HIV em Nova York.
Por ser portadores do HIV (que causa a Aids), conseguem benefícios que, por lei, garantem tratamento médico e psicológico gratuitos, ajuda no aluguel, transporte e alimentação.
Apenas em remédios, gastariam por mês até US$ 10 mil -cem salários mínimos brasileiros-, quantia que jamais poderiam assumir.
Transformados em cobaias humanas voluntárias, recebem, antes da aprovação oficial, as mais modernas drogas contra o vírus.
Para ter acesso a tais benefícios, eles assinam papel em que afirmam não ter condições físicas de deixar os EUA, o que significa que, se cruzarem as fronteiras, não poderão mais voltar.
Entre novembro e fevereiro, o inverno nos EUA, a Folha acompanhou o cotidiano de brasileiros que buscaram refúgio em Nova York, onde se imaginavam protegidos contra preconceito, intolerância e perseguição no trabalho.
Descrentes da medicina pública brasileira, vieram também na esperança de que estariam mais próximos da cura.
Se, de um lado, encontraram mais apoio médico e uma cidade melhor preparada para conviver com portadores do HIV, de outro mergulharam no vírus da solidão, que os faz ver no Brasil um paraíso definitivamente perdido.